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Foto do escritorArquidiocese de Pelotas

Papa Francisco, Francisco de Assis e a santidade


Surpresas positivas marcam o cenário atual da Igreja. Ainda que estejamos atravessando tempos difíceis no mundo de hoje, marcados por conflitos de todos os âmbitos, sejam, bélicos, sociais, humanos, ecológicos, o bom Deus sempre nos surpreende com boas novas e esperanças. O papa Francisco é com certeza uma das melhores surpresas que Deus oferece à humanidade nestes tempos sombrios. Nós que pensávamos que a “idade das sombras”, havia sido “superada” com a modernidade, e que ela “iluminaria” tanto o homem ao ponto, deste, proclamar para si, um modelo de vida, uma organização da coisa pública tão autônoma, a ponto de declarar independência do auxílio de Deus. Chegamos no início deste terceiro milênio, com mais interrogações do que na “era das sombras” com o olhar mais “ofuscado”, do que no tempo “das luzes” e neste determinado movimento da história pela qual o silêncio de Deus, é mais presente e eloquente que em outras épocas, percebemos que o caminho do homem no mundo, será mais plausível se nosso itinerário humano se aproximar com humildade da dialética oferecida pelo outro Francisco, o mais antigo, o que viveu “na idade das sombras”: “Senhor fazei-me um instrumento de vossa paz; Onde houver ódio, que eu leve o amor; Onde houver ofensa que eu leve o perdão, Onde houver discórdia que eu leve a união; Onde houver dúvida que eu leve a fé (...)” Na encruzilhada de nossos tempos, Franciscos se encontram, se aproximam, se dão mãos, coração, fé e Palavra. Ambos têm algo a dizer ao homem destes tempos. Os “Franciscos” possuem a “Palavra”. Possuem e partilham exatamente aquilo que precisamos nestes difíceis tempos: uma Palavra. Uma “fala” que seja capaz de “recapitular” o sentido, de reintegrar os opostos, de recolocar as coisas nos seus devidos lugares, de ressignificar o que é essencial do cristianismo, de retomar caminhos que foram perdidos, de apresentar novamente e com uma vitalidade há tempos esquecida, a virtude da esperança para este nosso contexto. O primeiro Francisco oferece a sua dialética. Ela é bela de ser lida, rezada, meditada, mas como toda dialética é extremamente paradoxal, é porventura difícil ser vivida: é austero viver sua aventura: “amar que ser amado, pois é dando que se recebe, é perdoando que se é perdoado, é morrendo que se vive”. O atual Francisco apresenta estas mesmas coisas, porém a partir de seu horizonte. Como o homônimo, o Papa Francisco é também um italiano. No entanto, desenraizado, desinstalado de suas mais remotas origens. A família piemontesa de Francisco, assemelha-se a tantas que diante das ameaças que as vulnerabilidades sociais provocam como a pobreza, a fome, os conflitos sociais, tiveram de se colocar em “saída”, em caminho de terras estrangeiras, para aí, nas periferias do mundo, reconstruir suas vidas. A emigração, o êxodo estão no vértice de nosso Papa. Francisco neto de imigrantes, aprendeu que o movimento de “sair”, por mais assustador que pareça, se acolhido e abraçado com fé, como já o fizera no passado, nossos primeiros pais ou como as situações adversas obrigou, José e Maria fugir para salvar o menino em direção do Egito, poderá ser lugar de novas possibilidades. O antigo Francisco, descobriu na pobreza, nos leprosos, nestas existenciais periferias, os pequeninos tijolos, e as “pedras angulares” para a reconstrução da Igreja de Cristo. O Francisco atual, foi buscar seus tijolos, nas olarias das “villas” de Buenos Aires, espaços antes “rejeitados” pelo poder público, e até mesmo pela evangelização, para daí também, buscar a inspiração necessária para a evangelização nestes tempos. Por mais que os tempos e as épocas os separem. E é preciso ter profundo respeito com os diferentes tecidos sociais em que ambos viveram, há sinceras semelhanças entre eles: a primeira que se imprime é claro, é o tema da inclusão. Tanto Francisco de Assis, como o Papa Francisco, integram no seu “iter” espiritual, os excluídos, aquele grupo social que aparece “invisível” de nossos de nossas relações e programas e até mesmo grupos pastorais. São inúmeras às semelhanças que os aproxima, mas destacaria apenas mais uma: a santidade de vida! E a “santidade de vida” é a “palavra” mais candente, verdadeira e densa que estes homens oferecem a nossos tempos. Os santos são pessoas capazes de falar e iluminar todos os espaços sociais, pois onde ela está, está sempre dialética, a contradição, a contramão a surpresa e a oportunidade. Um grande pensador francês laico certa vez em uma conferência proferiu uma seguinte sentença: “os gregos deram ao mundo a sabedoria. Os bárbaros no final do sec. VI os heróis. No entanto, somente o cristianismo foi capaz de oferecer à sociedade algo perene: a santidade de vida... Ofereçamos nós também aquilo que moveu nossos Franciscos. Uma Igreja santa, uma evangelização com matízes de santidade, uma santidade como os Franciscos experimentaram: “em saída, inclusiva e em encontro.”

Pe. César Augusto Dias Garcia


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